terça-feira, 29 de julho de 2008

Veneno

Sinto-te a deslizar ardente pela minha garganta. És a minha cura para os erros do mundo, o meu companheiro de dor. Olhei para ti durante tantos anos, sempre dentro desse frasco, perguntando-me como seria o teu sabor. A droga perfeita, o beijo libertador. Hoje peguei em ti e derramei-te nos meus lábios, porque hoje fartei-me do mundo e das pessoas. Quero viver longe daqui, longe deste falso planeta. Tu és a minha fuga, o meu grito de revolta. O insulto a todos os que cruzaram o meu caminho. Agora sou só eu e tu...

sábado, 26 de julho de 2008

O Tédio

"O tédio... É talvez, no fundo, a insatisfação da alma intíma por não lhe termos dado uma crença, a desolação da criança triste que intimamente somos, por não lhe termos comprado o brinquedo divino. É talvez a insegurança de quem não precisa mão que o guie, e não sente, no caminho negro da sensação profunda, mais que a noite sem ruído de não poder pensar, a estrada sem nada de não saber sentir...O tédio... Quem tem Deuses nunca tem tédio. O tédio é a falta de uma mitologia. A quem não tem crenças, até a dúvida é impossível, até o cepticismo não tem força para desconfiar. Sim, o tédio é isso: a perda, pela alma, da sua capacidade de se iludir, a falta, no pensamento, da escada inexistente por onde ele sobe sólido à verdade."

Fernando Pessoa

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Ecos

Regressam as lágrimas tilintantes que quedam lá fora. Ecoam e mim. Cheia de nostalgia, a terra húmida perfuma o ar que respiro no silêncio desta manhã chuvosa...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

LEAVE

Deixa morrer o que já parecia morto. Deixa morrer o que pelo passado quer ser enterrado. Não puxes por algo que já não tem por onde puxar. Não queiras o que já não há para dar. A luz que queres voltar a ver já foi coberta pelo manto da escuridão que não consegues decifrar, que não consegues levantar. Não podes controlar tudo, sabes? Não controlas sequer uma pequena parte. Não te exaltes pelo que já nada podes fazer. Deixa estar... Não está tudo ao teu alcance. Não está tudo nas tuas mãos. Sim, vê-te como pequeno que és. O poder que julgas possuir é na verdade um véu sobre a tua impotência. Cobres-te do que não és para poderes aguentar o que não consegues. Esquece, deixa estar... O que tem que ser não pode ser mudado por mais que queiras, há coisas que têm que ser da maneira que são, e não da maneira que queres que sejam, por isso não te exaltes pelo que nunca vais conseguir, por isso, deixa morrer o que quer ser morto e enterrado.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Perdi-te

Perdi-te há muito tempo.
Já não te vejo,
Não te ouço,
Nem te sinto.
Duvido da tua existência.
Foste imaginação, sonho, fantasia?
Alguma vez te senti?
Que foste tu?
Porque desapareceste?
Desejo-te, mas não te conheço mais.
Foste feita para mudar?
Foste feita para desaparecer?
Serás para sempre diferente?
Tenho saudades de algo que já não conheço.
Querer-te-ei eu de volta?
Amar-te-ei agora neste presente?
As dúvidas percorrem-me.
Serás tu, memória escondida,
Um escape ao meu presente?
Serás algo criado por mim
Apenas como refúgio?
Serás desculpa, razão?
Quero-te mas esqueço-te...